INUTILIDADE
Ele identificou a identidade da cidade
com peculiar naturalidade, quase à vontade,
e concluiu que aquela realidade
era cruel com ela, a humanidade.
Ele aprendeu a ver a pura maldade
e viu que aquilo já tinha idade.
Há tanto tempo, desigualdade.
Como é possível tanta vaidade?
Dinheiro, carro, mulher bonita.
Se perguntava: será isso vida?
Quem tem, passeia; quem não, mendiga
– na contramão de toda avenida.
Desesperados fazendo fila
por uma esmola
por uma escolha
por uma folha
por uma alma...
E a Justiça perdendo a calma.
Cresce a revolta. Chega o momento.
Vai sem escolta. Seu pensamento
era um só: Eu viro vida ou viro pó.
Declara guerra contra a maré!
Punhos cerrados, a voz, a fé.
Agora um líder surgiu nas ruas.
As putas riem nas noites nuas.
Corre o boato - dias contados!
Só um coitado, nem vai armado.
A qualquer hora um carro à toda,
a ironia se fazendo boba.
Era a censura calando a boca.
A voz que fala agora é louca.
A dentadura dando risada.
Ninguém sabia da sua morte.
Mais um fulano que não deu sorte.
Cada ferida cada corte,
e o seu sangue não fez efeito, nada mudou.
Raiva em seu peito.
Jamais se soube sua verdade.
Lutar não era dignidade.
com peculiar naturalidade, quase à vontade,
e concluiu que aquela realidade
era cruel com ela, a humanidade.
Ele aprendeu a ver a pura maldade
e viu que aquilo já tinha idade.
Há tanto tempo, desigualdade.
Como é possível tanta vaidade?
Dinheiro, carro, mulher bonita.
Se perguntava: será isso vida?
Quem tem, passeia; quem não, mendiga
– na contramão de toda avenida.
Desesperados fazendo fila
por uma esmola
por uma escolha
por uma folha
por uma alma...
E a Justiça perdendo a calma.
Cresce a revolta. Chega o momento.
Vai sem escolta. Seu pensamento
era um só: Eu viro vida ou viro pó.
Declara guerra contra a maré!
Punhos cerrados, a voz, a fé.
Agora um líder surgiu nas ruas.
As putas riem nas noites nuas.
Corre o boato - dias contados!
Só um coitado, nem vai armado.
A qualquer hora um carro à toda,
a ironia se fazendo boba.
Era a censura calando a boca.
A voz que fala agora é louca.
A dentadura dando risada.
Ninguém sabia da sua morte.
Mais um fulano que não deu sorte.
Cada ferida cada corte,
e o seu sangue não fez efeito, nada mudou.
Raiva em seu peito.
Jamais se soube sua verdade.
Lutar não era dignidade.
(Harrison Bourguignon)