quinta-feira, 22 de junho de 2006

"Terrorismo poético & outros crimes exemplares"

No Oriente, às vezes os poetas são presos – uma espécie de elogio, já que sugere que o autor fez algo tão real quanto um roubo, em estupro ou uma revolução. Aqui, os poetas podem publicar qualquer coisa que quiserem – o que em si mesmo é uma espécie de punição, uma prisão em paredes, sem eco, sem existência palpável – reino de sombras do mundo impresso, ou do pensamento abstrato – um mundo sem risco ou eros.
...
Se os legisladores se recusam a considerar poemas como crimes, então alguém precisa cometer os crimes que funcionem como poesia, ou textos que possuam a ressonância do terrorismo. Reconectar a poesia ao corpo a qualquer preço. Não crimes contra o corpo, mas contra Idéias (& Idéias-dentro-das-coisas) que sejam letais & asfixiantes. Não libertinagem estúpida, mas crimes exemplares, estéticos, crimes por amor.
...
Os Estados Unidos oferecem liberdade de expressão porque todas as palavras são consideradas igualmente insípidas. Apenas as imagens contam – os censores amam cenas de morte & mutilação, mas horrorizam-se diante de uma criança se masturbando – para eles, aparentemente, isso é uma invasão de seu fundamento existencial, sua identificação com o Império & seus gestos mais sutis.

terça-feira, 20 de junho de 2006

UNIVERSOS

INFELIZ EM UMA LINHA
o que vejo, desejo
.
ERRO
não fui eu
.
As pessoas felizes dançam nas festas e falam de futebol. Não sou feliz.
.
Uma folha caindo é lindo. Um homem caindo é engraçado.
.
O melhor pedaço é o próximo.

domingo, 18 de junho de 2006

Sobrevivência na civilização

Quanto mais claramente focarmos nossa atenção nas maravilhas e realidades do universo à nossa volta, menos prazer deveremos ter pela destruição.

Nós somos todos decepados da Natureza, e não apenas os moradores urbanos. É talvez importante lembrar algo de que às vezes nos esquecemos: um campo é tão produção humana quanto uma estrada. Apenas em algumas praias, serras, e poucas florestas, é que vemos a natureza algo parecida com o que foi antes da interferência humana. Ainda que intelectualmente ou emocionalmente apartados da Natureza, sofremos por uma perda que é difícil de definir...
A cor verde nos induz a acreditarmos que o planeta está repleto de natureza.
Se nos irritamos com a depredação e violação de propriedades e censuramos a pichação e o grafite, então devemos responder tal qual à deformação da natureza; por exemplo, uma estrada no meio da floresta, uma marca de pneu no deserto, um......

Nenhum átomo pode ser perturbado sem que, por atração, repulsão ou o que for, não se afete os átomos ao redor.
Todo movimento humano, toda ação orgânica, todo desejo, paixão, ou emoção, todo processo intelectual, é acompanhado por perturbações atômicas, e por isso todo e cada movimento, todo e cada ato ou processo afeta todos os átomos da matéria universal.

A juventude é uma embriaguez sem vinho, dizem. A vida é uma embriaguez. O único sóbrio é o melancólico, quem, desencantado, olha pra a vida e a vê como é realmente, e corta a garganta. Se for assim, quero estar muito bêbado. O grande lance é viver, apegar-se à nossa existência e disparar com ela em alguma grandiosa e fascinante perseguição.

A princípio, mesmo o sorriso da Natureza pode parecer cruel e frio. Qual conforto pode ajudar a tolerar a dor infinita de quando uma graciosa pessoa se vai, ou o terrível desperdício de quando uma mente brilhante ou um talento superior é aparentemente destruído pela morte? A aurora matinal, o calor do amanhecer, o passar das estações em seu revezamento magistral; os ferimentos são silenciosamente curados, a dor cessa de ser contínua, torna-se recorrente apenas a intervalos cada vez maiores, e finalmente chega o momento, totalmente inesperado, quando o coração uma vez mais se entrega ao esplendor de um céu maravilhoso de Verão. A cura está no Tempo e na Natureza, e os preços para estes grandes médicos são esperança e paciência.
Esta imersão na Natureza é igualmente apropriada para superar quaisquer dores do coração. O único passo necessário é a decisão por esta atitude de entrega.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Trechos de novos contos

xxx

(...) Tão do contra que, não por árduo sofrer, e ao invés dos contemporâneos que buscam inovar a forma, trilha os caminhos clássicos com destino aos lugares-comuns - à sua maneira, por certo, pois que não haveria de subordinar-se a outro que não sua própria insanidade.
(...)
Não à toa, cobra não voa.

xxx
(...)
- Ó, Culos de Boavista, Rei entre as sombras, Senhor do discernimento, Guardião dos saunterers, errei eu longa jornada que findasse em teu saber do porvir. Permite que me apresente; sou Escotomo de Miopia. (...)

xxx

por Đ®@КЄ

quinta-feira, 1 de junho de 2006

DESNUVEM

Foi-se a época de publicar minha vida em blog. Foi-se a época quando eu me importava em divulgar meus textos num único espaço virtual, quem quiser que procure meu nome.
Se quiserem informações sobre política, liguem a televisão, abram os jornais, pesquisem, mas não procurem o misantropo. Se quiserem críticas literárias ou sobre filmes, leiam, vão ao cinema e façam as suas próprias, mas não procurem o misantropo! Se quiserem saber do meu cotidiano, façam parte dele, mas não procurem o misantropo!
O misantropo está cansado de blogar textos coesos, biografia e opiniões tecnicistas!

Porém, o misantropo convida os raros, os loucos, os descompromissados e toda a estirpe dos libertos para visitar este espaço e ler seus pensamentos desligados, suas expressões fora de padrão, seus delírios cínicos... O misantropo convida os raros a conhecerem pedaços de uma mente alucinógena.
Não há neste espaço lugar para os coesos! Aqui o dadaísmo, a desconstrução da forma toma as rédeas.
Tudo o que há para ser dito já o foi. “When it’s all the same we can ask for it by name”. Quando o conteúdo se esgota, apenas a inovação da forma se faz atraente. Quero brincar com idéias, situações, palavras... Quem quiser seriedade que saia daqui! Convido apenas os dispostos a enlouquecer comigo! Os dispostos a olhar como parnasianos dadaístas. Hedonistas anárquicos. Rebeldes blasé.

“Podemos perdoar a um homem por haver feito uma coisa útil, contanto que não a admire. A única desculpa de haver feito uma coisa inútil é admirá-la intensamente. Toda arte é completamente inútil.”

O Teatro Mágico entoa o lema:
Sem horas e sem dores! Respeitável público pagão...
...
Os opostos se distraem, os dispostos se atraem!...