Ele estava só. Sentia-se só. Sentia, com orgulho, o seu orgulho. Seus olhos pareciam ver tudo se prostrar ante sua imagem.
Ele se sentia cansado. Cansado da cidade, das pessoas da cidade. Cansado dos seus grandes e numerosos feitos, de suas grandes e numerosas amizades, de seus grandes e numerosos romances. A cidade, as pessoas, os romances, todos dobravam os joelhos em sua presença.
Ele se sentia cansado. Era preciso uma fuga, assim decidiu. Assim foi caminhar em uma estrada vicinal. A estrada livre, os passos livres, pensamento livre. Pensava em como era vicioso ser elogiado, pois mesmo ali, onde nunca estivera, tudo parecia reverenciá-lo.
Ele se sentia, agora, entediado. Tudo tão parado. Procurava movimento. Ao longe ele viu movimento. Pela estrada se movimentava. Em sua direção se movimentava. Com graça se movimentava. Agora, com graça feminina o fitava.
Ele se sentia perdido. Ela veio, passou e foi. Ela lançou um olhar, lançou um sorriso, lançou uma flecha. Esta flecha, certeira, arrasou-lhe a razão e o coração. Arrasou-lhe os músculos, de modo que só pode se virar e ver. Nada conseguiu dizer.
Ele se sentia embebedado. Bêbado, ele viu uma casa. Bêbado, ele viu uma porta se abrir. Bêbado, ele viu um abraço... Bêbado, ele viu um beijo...
Ele se sentia vazio. Vazio e pesado. Pesado, ele sentiu uma lágrima cair por caminhos tortos. Tortas, ele sentiu suas pernas dobrarem-se até o chão duro. Duro foi o golpe recebido. Receberá apenas um sorriso tolo. Tolo ele se sentia agora.
Agora, ele se sentia só. Estava só.