sábado, 6 de maio de 2006

Pequenas Coisas (sonho)

Lembro-me de que estava na mesma Professor Galvoso, altura da Moraes Rego. Saindo de uma festa qualquer, ou fosse um evento cinema ou teatro também não faria diferença. Outra vez aquela Sampa-Guaíra, ridiculamente pequena, poluída e vertical.
Agora é tarde para saber como fui levado a conhecer aquela mulher, mas eu a havia convidado para ir comigo a um luau na casa um camarada, frente à minha. As horas se passavam e apenas o jardineiro trabalhava na copa da árvore na varanda e algumas crianças riam desafiantes e medrosas para nossa casa. Amaldiçoados. Monstros sem coração. Desumanos. Ele vai te tirar os órgãos para comer, vai te manter vivo o máximo que puder. Ouvi dizer que uma vez um cara continuou vivo até a hora de entrar na fornalha. Crianças! Abomino o que passa em suas cabeças. E toda sua criação nervosa primitiva perturbada reverbera quando crescemos. O pai não gosta que subam em suas árvores. Acha que é o gato da vizinha e atira. Cai o jardineiro. Nem remorso nos olhos de um, nem surpresa nos de outro.
E aquela mulher não vem. Decidido a ir ao seu encontro. Não sei onde mora; subo a rua e viro a primeira à esquerda. Ando poucas quadras até achá-la na portaria de um condomínio um tanto vistoso. Oi, lembra-se de mim? Claro, desculpa a demora, é que...
Virando a esquina em retorno, Daiane desce também a rua. A mesma garota que aprendi a odiar durante anos. Dirigiu-se à minha casa e retardei nossos passos, seguindo para o outro lado da rua. A mulher percebe a conduta de fuga. Não se interessa nos motivos. Talvez não se interesse por nada. Seja bela e cale a boca. A vida é pura repetição de erros! E os erros foram cometidos logo na infância; de resto, mudam apenas os atores e os cenários, a tragédia é a mesma.
Non-grata, aplaudiu meu portão, falou com a mãe, parecia destinada àquelas palavras; não podia ouvir, sentia. Entramos na casa do outro lado da rua. Continuei a cuidar os movimentos em minha casa. A mãe aponta este lado. Ele disse que estaria logo ali. Maldito momento quando parei de mentir. Abracei a mulher; deixei aperceber-se de que eu sabia que atravessa a rua; abracei e a mantive em meus braços quando Daiane me beijou o rosto. Preciso muito falar com você, tem tanta coisa que você precisa ouvir de mim... Estava deliciosamente bem vestida, dentro de uma elegância jamais vista e por mim jamais esperada em seu corpo.
Não há mais nada que possa me dizer. Mas... por favor, ouve!... Dei-lhe as costas. Surpreendi a mulher com um beijo. Não imagino o que a garota tivesse a me dizer, mas esperava que aquele beijo lhe servisse de resposta, ponto final em tudo aquilo. Novamente sem ver pude sentir uma lágrima em seu rosto. Pequenas coisas me fazem tão feliz!